Enquanto eu estiver afastada, e encontrar assuntos atuais interessantes , vou publicar ou indicar aqui para vocês ficarem atualizados.
Os endereços abaixo são super atualizados. Beijos.
http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/
Asteroide passará de raspão pela Terra
04/09/14 05:55
Sabe aquele asteroide que caiu na Rússia no ano passado? Um
igualzinho vai passar de raspão pelo nosso planeta neste domingo, por
volta das 15h (de Brasília). Não vai bater, mas estará a cerca de um
décimo da distância até a Lua — aproximadamente 40 mil km. Convenhamos,
quando um pedregulho de cerca de 20 metros de diâmetro vem na sua
direção a mais de 45 mil km/h, a gente tem de se preocupar, não?
A Nasa divulgou o achado ontem, obtido de forma independente por dois grupos de astrônomos nos dias 1 e 2 de setembro. Batizado de 2014 RC, o bólido celeste de início causou alvoroço, mas, a essa altura, com a órbita mais bem determinada, já sabemos que com certeza ele não corre risco de colidir. Por via das dúvidas, contudo, é bom continuar acompanhando sua trajetória depois que ele passar por nós, sobrevoando a região da Nova Zelândia.
DICA: Você se interessa pelo tema da busca científica por vida alienígena? Clique aqui e baixe uma amostra grátis do meu livro, “Extraterrestres: Onde eles estão e como a ciência tenta encontrá-los”
“Embora o 2014 RC não vá impactar com a Terra, sua órbita o trará à vizinhança do nosso planeta no futuro”, disse a agência espacial americana, em nota. “O movimento futuro do asteroide será monitorado de perto, mas nenhum potencial encontro ameaçador com a Terra foi identificado até agora.”
O lance é que, ao passar de raspão pela Terra, o asteroide tem sua trajetória alterada pela gravidade do planeta. Isso já é incluído nos cálculos, mas não custa confirmar depois do encontro para ver se está tudo certinho, não é? O seguro morreu de velho.
PERIGO CONSTANTE
Sabemos que esse não vai bater, mas dá um calafrio, vai? Pois vá se acostumando. O Mensageiro Sideral conversou com o caçador de asteroides brasileiro Cristóvão Jacques, e ele disse que não é tão incomum a descoberta de bólidos passando a um tiquinho de nós. “A gente pega um desses duas a três vezes por ano”, afirma.
Claro, de vez em quando não pega. E aí o asteroide só é descoberto depois que já passou, ou quando cai — como aconteceu em Chelyabinsk, na Rússia, em 15 de fevereiro de 2013. Naquele dia, um asteroide com estimados 20 metros de diâmetro explodiu ao adentrar a atmosfera terrestre, liberando uma energia 30 vezes maior que a bomba atômica de Hiroshima.
A onda de choque produzida pela explosão a 30 km de altitude danificou 7.200 prédios em seis cidades da região, e cerca de 1.500 pessoas ficaram feridas.
Ou seja, mesmo não sendo objetos capazes de destruir a civilização e devastar a vida globalmente (como o asteroide que matou os dinossauros, 65 milhões de anos atrás, que tinha pelo menos 10 km de diâmetro), bólidos como o 2014 RC podem fazer muitos estragos.
Felizmente, temos cientistas pensando em como detectar esses objetos antes que caiam aqui e também como desviá-los, se for necessário. “Este objeto é um ótimo análogo do bólido de Chelyabinsk”, afirma Eric Christensen, astrônomo da Universidade do Arizona em Tucson e um dos descobridores. “Acho encorajador o fato de duas grandes iniciativas de rastreio o terem detectado independentemente e que o objeto tenha sido anunciado cerca de quatro dias antes da aproximação máxima. Este é um ótimo exemplo de como o sistema tem de funcionar (e funciona!), que espero ajude a calar parte do barulho sobre como o céu está desabando e não temos capacidade para fazer nada a respeito.”
E você que pensou que astronomia não tinha utilidade prática?
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A Nasa divulgou o achado ontem, obtido de forma independente por dois grupos de astrônomos nos dias 1 e 2 de setembro. Batizado de 2014 RC, o bólido celeste de início causou alvoroço, mas, a essa altura, com a órbita mais bem determinada, já sabemos que com certeza ele não corre risco de colidir. Por via das dúvidas, contudo, é bom continuar acompanhando sua trajetória depois que ele passar por nós, sobrevoando a região da Nova Zelândia.
DICA: Você se interessa pelo tema da busca científica por vida alienígena? Clique aqui e baixe uma amostra grátis do meu livro, “Extraterrestres: Onde eles estão e como a ciência tenta encontrá-los”
“Embora o 2014 RC não vá impactar com a Terra, sua órbita o trará à vizinhança do nosso planeta no futuro”, disse a agência espacial americana, em nota. “O movimento futuro do asteroide será monitorado de perto, mas nenhum potencial encontro ameaçador com a Terra foi identificado até agora.”
O lance é que, ao passar de raspão pela Terra, o asteroide tem sua trajetória alterada pela gravidade do planeta. Isso já é incluído nos cálculos, mas não custa confirmar depois do encontro para ver se está tudo certinho, não é? O seguro morreu de velho.
PERIGO CONSTANTE
Sabemos que esse não vai bater, mas dá um calafrio, vai? Pois vá se acostumando. O Mensageiro Sideral conversou com o caçador de asteroides brasileiro Cristóvão Jacques, e ele disse que não é tão incomum a descoberta de bólidos passando a um tiquinho de nós. “A gente pega um desses duas a três vezes por ano”, afirma.
Claro, de vez em quando não pega. E aí o asteroide só é descoberto depois que já passou, ou quando cai — como aconteceu em Chelyabinsk, na Rússia, em 15 de fevereiro de 2013. Naquele dia, um asteroide com estimados 20 metros de diâmetro explodiu ao adentrar a atmosfera terrestre, liberando uma energia 30 vezes maior que a bomba atômica de Hiroshima.
A onda de choque produzida pela explosão a 30 km de altitude danificou 7.200 prédios em seis cidades da região, e cerca de 1.500 pessoas ficaram feridas.
Ou seja, mesmo não sendo objetos capazes de destruir a civilização e devastar a vida globalmente (como o asteroide que matou os dinossauros, 65 milhões de anos atrás, que tinha pelo menos 10 km de diâmetro), bólidos como o 2014 RC podem fazer muitos estragos.
Felizmente, temos cientistas pensando em como detectar esses objetos antes que caiam aqui e também como desviá-los, se for necessário. “Este objeto é um ótimo análogo do bólido de Chelyabinsk”, afirma Eric Christensen, astrônomo da Universidade do Arizona em Tucson e um dos descobridores. “Acho encorajador o fato de duas grandes iniciativas de rastreio o terem detectado independentemente e que o objeto tenha sido anunciado cerca de quatro dias antes da aproximação máxima. Este é um ótimo exemplo de como o sistema tem de funcionar (e funciona!), que espero ajude a calar parte do barulho sobre como o céu está desabando e não temos capacidade para fazer nada a respeito.”
E você que pensou que astronomia não tinha utilidade prática?
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Foguete brasileiro movido a etanol
03/09/14 06:00
O Brasil lançou ao espaço, na calada da noite de segunda-feira,
seu primeiro foguete de propulsão líquida. E ele é movido a etanol.
Trata-se de um veículo de sondagem, capaz apenas de voo suborbital, ou seja, sem potência suficiente para atingir a velocidade requerida à colocação de algum artefato em órbita da Terra. Mas a missão consiste em avanço importante para o país, pois é a primeira vez que testou-se um motor de foguete com combustível líquido desenvolvido nacionalmente. Essa é a tecnologia de praxe para veículos lançadores de satélites, pois permite um controle de voo melhor, embora seja mais complexa que a dos propelentes sólidos.
DICA: Você se interessa pelo tema da busca científica por vida alienígena? Clique aqui e baixe uma amostra grátis do meu livro, “Extraterrestres: Onde eles estão e como a ciência tenta encontrá-los”
O lançamento em si foi cheio de mistério. Sob encargo do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), órgão da Força Aérea Brasileira, o voo estava agendado para o último dia 29, sexta-feira passada, a partir do Centro Lançamento de Alcântara, no Maranhão. Mas eis que, dois dias depois, a Agência Espacial Brasileira reportou por meio de nota que houve um adiamento e que uma nova tentativa seria feita em 15 dias. Então, ontem, de surpresa, a AEB noticiou o voo bem-sucedido. (A nota original reportando o atraso de duas semanas foi apagada do site do órgão do governo.)
VELHO FOGUETE, NOVO ESTÁGIO
O veículo que subiu de Alcântara era uma combinação do velho e do novo. A base era o VS-30, tradicional foguete de sondagem brasileiro de um estágio movido a combustível sólido que já fez 12 voos antes deste. Somente o segundo estágio era de propulsão líquida, movido a etanol. Mas o que importa mesmo é que funcionou, colocando o país na lista dos detentores dessa tecnologia crucial para missões espaciais.
“Neste primeiro voo do Estágio Propulsivo Líquido verificou-se o bom funcionamento do motor pelo tempo previsto”, disse em nota o coronel-aviador Avandelino Santana Júnior, coordenador geral da Operação Raposa, nome dado ao esforço de lançamento em Alcântara.
O voo completo durou 3 minutos e 34 segundos, seguindo a trajetória nominal e encerrando-se com uma queda no mar na região prevista. Que fiquem registrados aqui a admiração e o entusiasmo do Mensageiro Sideral pelos obstinados engenheiros e técnicos do IAE, que obtiveram mais essa conquista a despeito do histórico descaso das autoridades com relação ao programa espacial brasileiro.
RENOVAÇÃO?
Que o sucesso abre portas e perspectivas para o futuro desenvolvimento de foguetes nacionais, não há dúvida. Parabéns a todos os envolvidos. Contudo, eu seria hipócrita se fingisse que está tudo bem e deixasse essa conversa terminar com um mero tapinha nas costas. A verdade é que o Brasil está muito atrasado nesse segmento tecnológico estratégico e essencial à soberania nacional e ao desenvolvimento econômico do país. Precisamos recuperar o tempo perdido. Aproveitando que estamos em período eleitoral, não custa aqui deixar minhas sugestões do que eu gostaria de ver acontecer no ramo de foguetes para a próxima década. Quem sabe Papai Noel está lendo e resolve me atender?
1- Transparência e uso pacífico
O Brasil precisa deixar claro para a comunidade internacional que seu programa de desenvolvimento de foguetes é pacífico. Por mais que a AEB sirva de fachada para o resto do mundo, a verdade é que nossos foguetes são desenvolvidos pela Força Aérea, que, a rigor, nem muito interesse tem em alavancar nosso avanço no espaço. Alguém precisa ter a coragem de desvincular o IAE da FAB (corporação pela qual tenho a maior admiração, mas que por seu caráter militar é por definição o ambiente inadequado para o desenvolvimento de um programa espacial civil) e torná-lo um centro vinculado diretamente à própria AEB, com estrutura independente e financiamento adequado voltado para sua atividade-fim: a concepção e os testes dos lançadores nacionais. A falta de transparência no ambiente militar incomoda muito. Exemplo: no dia 30, ansioso para saber se o lançamento do VS-30 havia acontecido conforme o planejado, contatei um engenheiro do IAE a quem tenho acesso, que me informou que não poderia falar sobre o assunto sem autorização do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica — que, por sinal, deveria estar dando o passo-a-passo da Operação Raposa à imprensa, mas manteve um silêncio inexplicável enquanto todos buscavam qualquer fiapo de informação a respeito do voo. Na boa, não dá. Como vamos contagiar a população com o entusiasmo e o orgulho de termos um programa espacial ativo se não contamos para ninguém o que estamos fazendo?
2- O VLS-1 já era
O Brasil, como você talvez saiba, tem desde 1980 um projeto para o desenvolvimento de seu primeiro Veículo Lançador de Satélites, o VLS-1. Três tentativas foram feitas de lançá-lo, após anos de atrasos. Duas falharam, em 1997 e 1999, e uma terceira terminou em tragédia, matando 21 técnicos e engenheiros do IAE em 2003. Na ocasião do acidente, o então presidente Lula havia prometido nova tentativa de lançamento para 2006. Já estamos em 2014 e ela não aconteceu. Mais: graças ao acordo com a Ucrânia para o lançamento dos foguetes Cyclone-4 a partir de Alcântara, que deve levar a um primeiro voo antes da próxima missão do VLS-1, parece desimportante levar o veículo nacional a termo. Certamente tivemos lições aprendidas (e algumas até já desaprendidas, com o passar do tempo) no desenvolvimento do foguete, e pouco irá acrescentar, além de orgulho, a essa altura, levar a cabo um lançamento bem-sucedido. Por mais que me doa o coração (sou fã do VLS-1 e queria muito vê-lo colocar um satélite no espaço), acho que é hora de cancelar. O projeto é atrasado e do tamanho errado para o Brasil.
3- Acelerar, com recursos adequados, o desenvolvimento dos sucessores do VLS
O plano já existe há mais de década: é o programa Cruzeiro do Sul, que prevê o desenvolvimento de cinco foguetes, com aumento gradual de capacidade e transição da tecnologia de combustível sólido para o líquido. O Alfa é basicamente o VLS-1 com um terceiro estágio de propulsão líquida. Vamos direto para ele. E de lá, agressivamente, rumo ao Beta, ao Gama, ao Delta e ao Epsilon. Com verba adequada e ambição, seria possível desenvolver num horizonte de 10 a 15 anos um sucessor evoluído para o Cyclone-4 — que, por sinal, não é minha opção favorita para o Brasil no momento, mas é o plano que o governo comprou mais de uma década atrás e pior que tê-lo seria interrompê-lo sem ter nada para colocar no lugar.
No fundo, o que precisamos mesmo nesse setor é de metas inspiradoras, realistas, claras e associadas a uma dotação orçamentária compatível com nosso potencial e com nossas ambições. Não dá mais para esperar. A quem quer que vença a eleição presidencial deste ano, fica a dica.
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Trata-se de um veículo de sondagem, capaz apenas de voo suborbital, ou seja, sem potência suficiente para atingir a velocidade requerida à colocação de algum artefato em órbita da Terra. Mas a missão consiste em avanço importante para o país, pois é a primeira vez que testou-se um motor de foguete com combustível líquido desenvolvido nacionalmente. Essa é a tecnologia de praxe para veículos lançadores de satélites, pois permite um controle de voo melhor, embora seja mais complexa que a dos propelentes sólidos.
DICA: Você se interessa pelo tema da busca científica por vida alienígena? Clique aqui e baixe uma amostra grátis do meu livro, “Extraterrestres: Onde eles estão e como a ciência tenta encontrá-los”
O lançamento em si foi cheio de mistério. Sob encargo do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), órgão da Força Aérea Brasileira, o voo estava agendado para o último dia 29, sexta-feira passada, a partir do Centro Lançamento de Alcântara, no Maranhão. Mas eis que, dois dias depois, a Agência Espacial Brasileira reportou por meio de nota que houve um adiamento e que uma nova tentativa seria feita em 15 dias. Então, ontem, de surpresa, a AEB noticiou o voo bem-sucedido. (A nota original reportando o atraso de duas semanas foi apagada do site do órgão do governo.)
VELHO FOGUETE, NOVO ESTÁGIO
O veículo que subiu de Alcântara era uma combinação do velho e do novo. A base era o VS-30, tradicional foguete de sondagem brasileiro de um estágio movido a combustível sólido que já fez 12 voos antes deste. Somente o segundo estágio era de propulsão líquida, movido a etanol. Mas o que importa mesmo é que funcionou, colocando o país na lista dos detentores dessa tecnologia crucial para missões espaciais.
“Neste primeiro voo do Estágio Propulsivo Líquido verificou-se o bom funcionamento do motor pelo tempo previsto”, disse em nota o coronel-aviador Avandelino Santana Júnior, coordenador geral da Operação Raposa, nome dado ao esforço de lançamento em Alcântara.
O voo completo durou 3 minutos e 34 segundos, seguindo a trajetória nominal e encerrando-se com uma queda no mar na região prevista. Que fiquem registrados aqui a admiração e o entusiasmo do Mensageiro Sideral pelos obstinados engenheiros e técnicos do IAE, que obtiveram mais essa conquista a despeito do histórico descaso das autoridades com relação ao programa espacial brasileiro.
RENOVAÇÃO?
Que o sucesso abre portas e perspectivas para o futuro desenvolvimento de foguetes nacionais, não há dúvida. Parabéns a todos os envolvidos. Contudo, eu seria hipócrita se fingisse que está tudo bem e deixasse essa conversa terminar com um mero tapinha nas costas. A verdade é que o Brasil está muito atrasado nesse segmento tecnológico estratégico e essencial à soberania nacional e ao desenvolvimento econômico do país. Precisamos recuperar o tempo perdido. Aproveitando que estamos em período eleitoral, não custa aqui deixar minhas sugestões do que eu gostaria de ver acontecer no ramo de foguetes para a próxima década. Quem sabe Papai Noel está lendo e resolve me atender?
1- Transparência e uso pacífico
O Brasil precisa deixar claro para a comunidade internacional que seu programa de desenvolvimento de foguetes é pacífico. Por mais que a AEB sirva de fachada para o resto do mundo, a verdade é que nossos foguetes são desenvolvidos pela Força Aérea, que, a rigor, nem muito interesse tem em alavancar nosso avanço no espaço. Alguém precisa ter a coragem de desvincular o IAE da FAB (corporação pela qual tenho a maior admiração, mas que por seu caráter militar é por definição o ambiente inadequado para o desenvolvimento de um programa espacial civil) e torná-lo um centro vinculado diretamente à própria AEB, com estrutura independente e financiamento adequado voltado para sua atividade-fim: a concepção e os testes dos lançadores nacionais. A falta de transparência no ambiente militar incomoda muito. Exemplo: no dia 30, ansioso para saber se o lançamento do VS-30 havia acontecido conforme o planejado, contatei um engenheiro do IAE a quem tenho acesso, que me informou que não poderia falar sobre o assunto sem autorização do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica — que, por sinal, deveria estar dando o passo-a-passo da Operação Raposa à imprensa, mas manteve um silêncio inexplicável enquanto todos buscavam qualquer fiapo de informação a respeito do voo. Na boa, não dá. Como vamos contagiar a população com o entusiasmo e o orgulho de termos um programa espacial ativo se não contamos para ninguém o que estamos fazendo?
2- O VLS-1 já era
O Brasil, como você talvez saiba, tem desde 1980 um projeto para o desenvolvimento de seu primeiro Veículo Lançador de Satélites, o VLS-1. Três tentativas foram feitas de lançá-lo, após anos de atrasos. Duas falharam, em 1997 e 1999, e uma terceira terminou em tragédia, matando 21 técnicos e engenheiros do IAE em 2003. Na ocasião do acidente, o então presidente Lula havia prometido nova tentativa de lançamento para 2006. Já estamos em 2014 e ela não aconteceu. Mais: graças ao acordo com a Ucrânia para o lançamento dos foguetes Cyclone-4 a partir de Alcântara, que deve levar a um primeiro voo antes da próxima missão do VLS-1, parece desimportante levar o veículo nacional a termo. Certamente tivemos lições aprendidas (e algumas até já desaprendidas, com o passar do tempo) no desenvolvimento do foguete, e pouco irá acrescentar, além de orgulho, a essa altura, levar a cabo um lançamento bem-sucedido. Por mais que me doa o coração (sou fã do VLS-1 e queria muito vê-lo colocar um satélite no espaço), acho que é hora de cancelar. O projeto é atrasado e do tamanho errado para o Brasil.
3- Acelerar, com recursos adequados, o desenvolvimento dos sucessores do VLS
O plano já existe há mais de década: é o programa Cruzeiro do Sul, que prevê o desenvolvimento de cinco foguetes, com aumento gradual de capacidade e transição da tecnologia de combustível sólido para o líquido. O Alfa é basicamente o VLS-1 com um terceiro estágio de propulsão líquida. Vamos direto para ele. E de lá, agressivamente, rumo ao Beta, ao Gama, ao Delta e ao Epsilon. Com verba adequada e ambição, seria possível desenvolver num horizonte de 10 a 15 anos um sucessor evoluído para o Cyclone-4 — que, por sinal, não é minha opção favorita para o Brasil no momento, mas é o plano que o governo comprou mais de uma década atrás e pior que tê-lo seria interrompê-lo sem ter nada para colocar no lugar.
No fundo, o que precisamos mesmo nesse setor é de metas inspiradoras, realistas, claras e associadas a uma dotação orçamentária compatível com nosso potencial e com nossas ambições. Não dá mais para esperar. A quem quer que vença a eleição presidencial deste ano, fica a dica.
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Nasa vai formatar memória de jipe
02/09/14 05:41
Quanto tempo faz desde a última vez que você precisou formatar o
disco rígido do seu computador? Bem, essa hora finalmente chegou para o
jipe robótico Opportunity, que já está há mais de uma década
perambulando pela superfície de Marte.

A Nasa decidiu formatar a memória do jipe após seguidas falhas que
levaram a travamentos de sua máquina ultratecnológica. E como um jipe
marciano resolve um travamento? Do mesmo jeito que nós, pobre mortais,
quando nosso computador pede água: damos um reset nele.
No caso do Opportunity, a própria máquina faz isso sozinha. Travou? Reset. O problema é que ficar desligando e ligando o sistema toda hora atrasa as atividades científicas programadas. E agora está chegando num ponto intolerável. Para que se tenha uma ideia, o Opportunity passou por doze resets só no mês de agosto. Muita coisa, principalmente considerando que a reinicialização leva de um a dois dias.
“Células gastas na memória flash são os principais suspeitos de causar os resets”, explicou em nota John Callas, gerente do projeto no JPL (Laboratório de Propulsão a Jato) da Nasa.
DICA: Você se interessa pelo tema da busca científica por vida alienígena? Clique aqui e baixe uma amostra grátis do meu livro, “Extraterrestres: Onde eles estão e como a ciência tenta encontrá-los”
Ao reformatar a memória flash (o mesmo tipo de dispositivo que conserva fotografias, vídeos e músicas em smart phones terráqueos), o computador de bordo do Opportunity automaticamente marca as células defeituosas e deixa de usá-las, o que pode solucionar a questão.
A operação exige cuidados, claro, mas é tida como de baixo risco pela agência espacial americana. Até porque o software básico de operação do jipe é armazenado em outro dispositivo de memória, que não é “apagável” e é, por isso mesmo, mais robusto.
O irmão gêmeo do Opportunity, o Spirit (hoje já desativado), passou pelo processo de reformatação há cinco anos, e o procedimento o “curou” de uma crise recorrente de “amnésia” que o estava afetando. Para o Opportunity, que segue firme e forte depois de mais de uma década e 40 km de rodagem no solo marciano, será a primeira vez.
A Nasa espera que a reformatação, programada para acontecer nos próximos dias, possa dar ainda mais vida útil ao velho rover, que conta em sua equipe científica com a participação do físico brasileiro Paulo Antonio de Souza Júnior. Conversei com ele recentemente e ele aposta que o Opportunity ainda tem a contribuir na compreensão do passado geológico do planeta vermelho, que parece ter sido bastante amigável ao surgimento da vida. O jipe pousou em 2004 na região de Meridiani Planum e obteve quase de imediato evidências de que aquele local, bilhões de anos atrás, havia abrigado um mar raso marciano.
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Selfie feita pelo Opportunity (é um mosaico de várias fotos, o que explica como ele se vê por inteiro) em 2014.
No caso do Opportunity, a própria máquina faz isso sozinha. Travou? Reset. O problema é que ficar desligando e ligando o sistema toda hora atrasa as atividades científicas programadas. E agora está chegando num ponto intolerável. Para que se tenha uma ideia, o Opportunity passou por doze resets só no mês de agosto. Muita coisa, principalmente considerando que a reinicialização leva de um a dois dias.
“Células gastas na memória flash são os principais suspeitos de causar os resets”, explicou em nota John Callas, gerente do projeto no JPL (Laboratório de Propulsão a Jato) da Nasa.
DICA: Você se interessa pelo tema da busca científica por vida alienígena? Clique aqui e baixe uma amostra grátis do meu livro, “Extraterrestres: Onde eles estão e como a ciência tenta encontrá-los”
Ao reformatar a memória flash (o mesmo tipo de dispositivo que conserva fotografias, vídeos e músicas em smart phones terráqueos), o computador de bordo do Opportunity automaticamente marca as células defeituosas e deixa de usá-las, o que pode solucionar a questão.
A operação exige cuidados, claro, mas é tida como de baixo risco pela agência espacial americana. Até porque o software básico de operação do jipe é armazenado em outro dispositivo de memória, que não é “apagável” e é, por isso mesmo, mais robusto.
O irmão gêmeo do Opportunity, o Spirit (hoje já desativado), passou pelo processo de reformatação há cinco anos, e o procedimento o “curou” de uma crise recorrente de “amnésia” que o estava afetando. Para o Opportunity, que segue firme e forte depois de mais de uma década e 40 km de rodagem no solo marciano, será a primeira vez.
A Nasa espera que a reformatação, programada para acontecer nos próximos dias, possa dar ainda mais vida útil ao velho rover, que conta em sua equipe científica com a participação do físico brasileiro Paulo Antonio de Souza Júnior. Conversei com ele recentemente e ele aposta que o Opportunity ainda tem a contribuir na compreensão do passado geológico do planeta vermelho, que parece ter sido bastante amigável ao surgimento da vida. O jipe pousou em 2004 na região de Meridiani Planum e obteve quase de imediato evidências de que aquele local, bilhões de anos atrás, havia abrigado um mar raso marciano.
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Paleontologia em Marte
01/09/14 05:58
Um renomado paleobiólogo americano anda animado com a
possibilidade de procurar fósseis de formas de vida antigas em rochas
marcianas. Mas primeiro, claro, será preciso trazer essas pedras de lá.

J. William Schopf, pesquisador da Universidade da Califórnia em Los
Angeles, apresentou suas ambições em palestra proferida na última
sexta-feira, durante o Primeiro Encontro de Astrobiologia e
Paleobiologia promovido pelo Instituto de Geociências da USP.
“Ainda estamos discutindo questões de segurança, como de que maneira trazer essas rochas para a Terra sem correr o risco de contaminá-la com os terríveis germes marcianos que supostamente vão matar todo mundo, o que tem tomado bastante do nosso tempo”, ironiza o cientista, referindo-se às preocupações da Nasa, talvez excessivamente zelosas, de como lidar com amostras com potencial biológico trazidas de outros mundos. “Mas vai acontecer. Nos próximos 20 anos, certamente vai acontecer.”
DICA: Você se interessa pelo tema da busca científica por vida alienígena? Clique aqui e baixe uma amostra grátis do meu livro, “Extraterrestres: Onde eles estão e como a ciência tenta encontrá-los”
Calma lá. Para que uma missão robótica capaz de trazer amostras de Marte possa mesmo ser bem-sucedida, antes será preciso determinar que tipo de rocha deve ser trazida de lá. Schopf sugere que deveríamos procurar, imagine você, amostras de gesso marciano.
Soa estranho, eu sei. Afinal, quando falamos de gesso, pensamos no material de construção, não no mineral de que ele é feito, o gipso. Mas resultados obtidos por sondas tanto em órbita de Marte como no solo mostram que há considerável presença de gipso no planeta vermelho. E o que talvez seja mais interessante: esse material é formado através de deposição por água.
Portanto, ao trazer gesso de Marte, teremos em mãos uma rocha sedimentar (ou seja, formada por camadas depositadas sucessivamente, ideal para a preservação de fósseis) que foi produzida na época em que Marte ainda era um planeta molhado, como a Terra.
TESTE PRÁTICO
Para confirmar que essa é mesmo uma boa ideia, Schopf conduziu recentemente uma espécie de projeto-piloto, procurando fósseis antigos em gesso terrestre — uma atividade que havia sido até então negligenciada pelos paleontólogos. E aí, em 2012, veio a boa notícia: ele encontrou micróbios fossilizados em diversas amostras espalhadas pelo mundo, em bom estado de preservação!
O paleobiólogo aponta que há hoje boas tecnologias, que ele mesmo ajudou a desenvolver, para fazer a caracterização dos potenciais fósseis marcianos, assim que eles sejam trazidos para a Terra.
Entre elas, está a microscopia de escaneamento de laser confocal (CLSM, na sigla inglesa), que funciona quase como uma “visão de raio X” para enxergar o interior da rocha, permitindo identificar a forma tridimensional do fóssil sem precisar danificar a amostra.
De forma complementar, uma outra técnica conhecida como espectroscopia Raman permite identificar a composição química do fóssil, confirmando que sua origem é de fato orgânica.
“Certamente quando tivermos as amostras de Marte teremos outros instrumentos ainda mais sofisticados para analisá-las, mas, se as obtivéssemos hoje, essas seriam as técnicas que usaríamos”, diz.
E O QUE TEM PARA HOJE?
A essa altura, você talvez já tenha se lembrado de que na verdade já possuímos algumas amostras que vieram de Marte — meteoritos ejetados da superfície do planeta vermelho após um impacto de asteroide que acabaram caindo aqui, após milhões de anos viajando pelo espaço interplanetário.
O mais famoso deles é uma pedra conhecida pela sigla ALH 84001, que atingiu o estrelato em 1996, quando a Nasa fez alvoroço ao dizer que ele continha sinais de vida marciana de 4 bilhões de anos (hoje o consenso científico é de que esses traços não consistem evidência conclusiva de vida extraterrestre, e Schopf foi um dos mais ferrenhos críticos do estudo original).

O problema com todos eles, segundo Schopf, é que são as rochas
erradas para procurar vida — em geral pedras formadas pelo resfriamento
de lava resultante de erupções vulcânicas, conhecidas como rochas
ígneas. Precisamos mesmo de rochas sedimentares, mas não é o tipo de
pedra que encontraremos em bólidos que resistem desprotegidos à
violência da entrada na atmosfera terrestre. “Rochas sedimentares são
frágeis, elas fazem péssimos meteoritos”, disse o pesquisador americano
ao Mensageiro Sideral.
Moral da história: precisamos mandar um robô até Marte colher as rochas certas e enviá-las de volta, em segurança, para os laboratórios na Terra. Americanos, europeus e russos já manifestaram interesse numa missão desse tipo, mas nenhuma agência espacial tem no momento um plano concreto para executá-la. Contudo, as coisas tendem a esquentar nos próximos anos. A ESA (agência espacial europeia) está para conduzir duas missões de busca por sinais de vida em Marte, em 2016 e 2018, e resultados intrigantes podem acelerar o interesse em preparar uma iniciativa de retorno de amostras.
Schopf torce, ansioso, para ainda estar na ativa quando isso tudo acontecer. A busca por vida extraterrestre continua!
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
Em tese, esse veio mineral de gipso fotografado pelo jipe Opportunity em solo marciano poderia conter fósseis.
“Ainda estamos discutindo questões de segurança, como de que maneira trazer essas rochas para a Terra sem correr o risco de contaminá-la com os terríveis germes marcianos que supostamente vão matar todo mundo, o que tem tomado bastante do nosso tempo”, ironiza o cientista, referindo-se às preocupações da Nasa, talvez excessivamente zelosas, de como lidar com amostras com potencial biológico trazidas de outros mundos. “Mas vai acontecer. Nos próximos 20 anos, certamente vai acontecer.”
DICA: Você se interessa pelo tema da busca científica por vida alienígena? Clique aqui e baixe uma amostra grátis do meu livro, “Extraterrestres: Onde eles estão e como a ciência tenta encontrá-los”
Calma lá. Para que uma missão robótica capaz de trazer amostras de Marte possa mesmo ser bem-sucedida, antes será preciso determinar que tipo de rocha deve ser trazida de lá. Schopf sugere que deveríamos procurar, imagine você, amostras de gesso marciano.
Soa estranho, eu sei. Afinal, quando falamos de gesso, pensamos no material de construção, não no mineral de que ele é feito, o gipso. Mas resultados obtidos por sondas tanto em órbita de Marte como no solo mostram que há considerável presença de gipso no planeta vermelho. E o que talvez seja mais interessante: esse material é formado através de deposição por água.
Portanto, ao trazer gesso de Marte, teremos em mãos uma rocha sedimentar (ou seja, formada por camadas depositadas sucessivamente, ideal para a preservação de fósseis) que foi produzida na época em que Marte ainda era um planeta molhado, como a Terra.
TESTE PRÁTICO
Para confirmar que essa é mesmo uma boa ideia, Schopf conduziu recentemente uma espécie de projeto-piloto, procurando fósseis antigos em gesso terrestre — uma atividade que havia sido até então negligenciada pelos paleontólogos. E aí, em 2012, veio a boa notícia: ele encontrou micróbios fossilizados em diversas amostras espalhadas pelo mundo, em bom estado de preservação!
O paleobiólogo aponta que há hoje boas tecnologias, que ele mesmo ajudou a desenvolver, para fazer a caracterização dos potenciais fósseis marcianos, assim que eles sejam trazidos para a Terra.
Entre elas, está a microscopia de escaneamento de laser confocal (CLSM, na sigla inglesa), que funciona quase como uma “visão de raio X” para enxergar o interior da rocha, permitindo identificar a forma tridimensional do fóssil sem precisar danificar a amostra.
De forma complementar, uma outra técnica conhecida como espectroscopia Raman permite identificar a composição química do fóssil, confirmando que sua origem é de fato orgânica.
“Certamente quando tivermos as amostras de Marte teremos outros instrumentos ainda mais sofisticados para analisá-las, mas, se as obtivéssemos hoje, essas seriam as técnicas que usaríamos”, diz.
E O QUE TEM PARA HOJE?
A essa altura, você talvez já tenha se lembrado de que na verdade já possuímos algumas amostras que vieram de Marte — meteoritos ejetados da superfície do planeta vermelho após um impacto de asteroide que acabaram caindo aqui, após milhões de anos viajando pelo espaço interplanetário.
O mais famoso deles é uma pedra conhecida pela sigla ALH 84001, que atingiu o estrelato em 1996, quando a Nasa fez alvoroço ao dizer que ele continha sinais de vida marciana de 4 bilhões de anos (hoje o consenso científico é de que esses traços não consistem evidência conclusiva de vida extraterrestre, e Schopf foi um dos mais ferrenhos críticos do estudo original).
Esta
imagem microscópica do meteorito ALH 84001 não contém sinais de vida
marciana, segundo Schopf. As estruturas seriam pequenas demais, segundo
ele.
Moral da história: precisamos mandar um robô até Marte colher as rochas certas e enviá-las de volta, em segurança, para os laboratórios na Terra. Americanos, europeus e russos já manifestaram interesse numa missão desse tipo, mas nenhuma agência espacial tem no momento um plano concreto para executá-la. Contudo, as coisas tendem a esquentar nos próximos anos. A ESA (agência espacial europeia) está para conduzir duas missões de busca por sinais de vida em Marte, em 2016 e 2018, e resultados intrigantes podem acelerar o interesse em preparar uma iniciativa de retorno de amostras.
Schopf torce, ansioso, para ainda estar na ativa quando isso tudo acontecer. A busca por vida extraterrestre continua!
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Nada como um asteroide após o outro
28/08/14 05:55
Um grupo de astrônomos amadores brasileiros descobriu nos
últimos dois meses nada menos que seis asteroides cujas órbitas os
trazem perigosamente perto da Terra. Nenhum deles corre risco de colisão
conosco, mas trata-se de um lembrete sinistro de que há muitos
pedregulhos perigosos ainda não catalogados lá fora.

Os achados foram feitos em rápida sucessão no Observatório SONEAR,
localizado em Oliveira (MG). O primeiro foi localizado em 15 de julho, o
segundo, em 23 de julho, o terceiro no dia 4 de agosto, mais um no dia
13, outro no dia 14 e o derradeiro no dia 19. Incluindo a primeira descoberta desse tipo feita pelo grupo, em 20 de maio, são sete no total.
“O pessoal tem brincado que eles estão parecendo uma certa seleção da Europa, fazendo um gol atrás do outro”, comenta Paulo Holvorcem, um veterano brasileiro da caça a asteroides. A que se deve esse sucesso inesperado? Sorte?
“Sinal de muito trabalho”, destaca Cristóvão Jacques, líder da equipe do SONEAR, explicando que o grupo está se esforçando por observar não só em regiões do céu exclusivas do hemisfério Sul, onde há pouca concorrência com outras equipes, mas também em áreas mais “disputadas”, onde atuam projetos consolidados e profissionais de busca de asteroides, como o Pan-Starrs, baseado no Havaí.
Após oito meses de observação, os resultados do SONEAR têm sido extraordinários. Além dos novos sete asteroides próximos à Terra, os astrônomos de Minas também descobriram outros dez asteroides pertencentes ao cinturão existente entre as órbitas de Marte e de Júpiter. E de lá veio a descoberta dos dois primeiros cometas 100% nacionais, ou seja, aqueles descobertos em solo brasileiro, por brasileiros, com equipamento brasileiro.
Um deles, inclusive, chegou a dar espetáculo recentemente para quem tem um bom telescópio (veja foto acima). É o cometa Jacques, que no momento está inobservável no hemisfério Sul, mas bastante visível para nossos vizinhos no Norte. Ele atingirá sua máxima aproximação da Terra (84,4 milhões de km) amanhã e deverá voltar a ser visto no hemisfério Sul a partir da segunda semana de setembro.
TIRO AO ALVO
Dos sete NEOs (Objetos Próximos à Terra, na sigla inglesa) descobertos pelos mineiros, o que pode passar mais perto do nosso planeta é justamente o primeiro que eles acharam, designado 2014 KP4. Sua aproximação máxima deve ser de 7,1 milhões de km (cerca de 20 vezes a distância Terra-Lua). Já o segundo mais perigoso foi o último a ser descoberto, designado 2014 QA33. Ele passará um pouco mais longe, a 8,2 milhões de km. Sem perigo.
Em compensação, se você fosse venusiano, estaria bem mais preocupado com o 2014 QA33. Sua aproximação máxima estimada do planeta Vênus é de 1,1 milhão de km, ou apenas três vezes a distância Terra-Lua. Não vai bater, mas o recado é claro: ainda tem muito pedregulho por aí que não conhecemos de onde vem e para onde vai. Um deles pode muito bem ter uma etiqueta com o nosso nome.
Por isso a importância do contínuo trabalho do SONEAR, sobretudo no céu do hemisfério Sul, onde não há praticamente mais ninguém olhando. Eles são a nossa polícia espacial, pronta para soar o alarme em caso de um asteroide resolver nos fazer uma visitinha.
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
Astrofotógrafo amador Michael Jäger registra o cometa Jacques, objeto descoberto pelo SONEAR, com nebulosas ao fundo.
“O pessoal tem brincado que eles estão parecendo uma certa seleção da Europa, fazendo um gol atrás do outro”, comenta Paulo Holvorcem, um veterano brasileiro da caça a asteroides. A que se deve esse sucesso inesperado? Sorte?
“Sinal de muito trabalho”, destaca Cristóvão Jacques, líder da equipe do SONEAR, explicando que o grupo está se esforçando por observar não só em regiões do céu exclusivas do hemisfério Sul, onde há pouca concorrência com outras equipes, mas também em áreas mais “disputadas”, onde atuam projetos consolidados e profissionais de busca de asteroides, como o Pan-Starrs, baseado no Havaí.
Após oito meses de observação, os resultados do SONEAR têm sido extraordinários. Além dos novos sete asteroides próximos à Terra, os astrônomos de Minas também descobriram outros dez asteroides pertencentes ao cinturão existente entre as órbitas de Marte e de Júpiter. E de lá veio a descoberta dos dois primeiros cometas 100% nacionais, ou seja, aqueles descobertos em solo brasileiro, por brasileiros, com equipamento brasileiro.
Um deles, inclusive, chegou a dar espetáculo recentemente para quem tem um bom telescópio (veja foto acima). É o cometa Jacques, que no momento está inobservável no hemisfério Sul, mas bastante visível para nossos vizinhos no Norte. Ele atingirá sua máxima aproximação da Terra (84,4 milhões de km) amanhã e deverá voltar a ser visto no hemisfério Sul a partir da segunda semana de setembro.
TIRO AO ALVO
Dos sete NEOs (Objetos Próximos à Terra, na sigla inglesa) descobertos pelos mineiros, o que pode passar mais perto do nosso planeta é justamente o primeiro que eles acharam, designado 2014 KP4. Sua aproximação máxima deve ser de 7,1 milhões de km (cerca de 20 vezes a distância Terra-Lua). Já o segundo mais perigoso foi o último a ser descoberto, designado 2014 QA33. Ele passará um pouco mais longe, a 8,2 milhões de km. Sem perigo.
Em compensação, se você fosse venusiano, estaria bem mais preocupado com o 2014 QA33. Sua aproximação máxima estimada do planeta Vênus é de 1,1 milhão de km, ou apenas três vezes a distância Terra-Lua. Não vai bater, mas o recado é claro: ainda tem muito pedregulho por aí que não conhecemos de onde vem e para onde vai. Um deles pode muito bem ter uma etiqueta com o nosso nome.
Por isso a importância do contínuo trabalho do SONEAR, sobretudo no céu do hemisfério Sul, onde não há praticamente mais ninguém olhando. Eles são a nossa polícia espacial, pronta para soar o alarme em caso de um asteroide resolver nos fazer uma visitinha.
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Lançamento do meu novo livro, “Extraterrestres”
27/08/14 08:17
Pausa para o merchan: gostaria de convidar todos os leitores do Mensageiro Sideral para prestigiar o lançamento e noite de autógrafos do meu novo livro, Extraterrestres: Onde eles estão e como a ciência tenta encontrá-los.
Vai acontecer na próxima terça-feira, 2 de setembro de 2014, a partir
das 18h30, na Livraria da Vila do Shopping JK Iguatemi, em São Paulo.
Apareça!

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O local de pouso da Rosetta
26/08/14 05:59
A equipe responsável pela missão europeia Rosetta escolheu os
cinco locais mais promissores para o primeiro pouso de uma sonda num
cometa, evento histórico — e tenso — marcado para 11 de novembro.
Os cientistas têm trabalhado furiosamente no mapeamento do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko desde a chegada da espaçonave ao astro, no último dia 6. As primeiras imagens com essa finalidade foram obtidas a uma distância de 100 km e forneceram subsídios para uma seleção inicial de dez sítios para o futuro pouso do módulo Philae.
Agora, esta seleção foi reduzida a cinco locais — e escolher o melhor ponto para descida é mais complicado do que pode parecer. Não é somente escolher o lugar mais lisinho, com menos risco de a sonda ser danificada ao impactar contra uma rocha pontiaguda. Um dos requerimentos, por exemplo, é que ele forneça pelo menos seis horas de exposição ao Sol conforme o cometa gira em torno de seu próprio eixo, de forma que as baterias do Philae possam ser recarregadas via painéis solares, após o esgotamento da carga inicial de 64 horas. Mas calma lá! Também não pode ter Sol demais, sob risco de causar super-aquecimento.
(Meu alvo favorito? É o marcado com a letra A, na imagem acima; ele permite a observação dos dois lobos do cometa e está numa reentrância que parece limitar à medida certa a exposição ao Sol. Mas só imagens com mais resolução permitirão concluir que ele seria mesmo uma boa opção.)
E agora, quais serão os próximos passos? A essa altura a Rosetta já está monitorando o cometa de mais perto — 60 km — e deve descer ainda mais na semana que vem, chegando a 30 km de distância. Esse processo permitirá um mapeamento mais detalhado dos cinco sítios pré-selecionados, e no dia 14 de setembro restarão apenas dois: um primário e um reserva. No fim de setembro, a distância orbital entre a Rosetta e o cometa terá caído para 20 km e, a partir de 10 de outubro, essa distância cai para 10 km — o equivalente aproximado à altitude de cruzeiro de um avião de passageiros.
Em 12 de outubro, a equipe responsável pela escolha dará o “Go!” (ou o “No Go!”, se for o caso) para o sítio primário, e os operadores começam a adaptar o software da Philae para as especificidades do plano de pouso. Em 9 de novembro o software é transmitido da Terra para o Philae e, dois dias depois, em 11 de novembro, vamos todos fazer figas pelo módulo de pouso em sua audaciosa tentativa de fazer uma descida suave na superfície do cometa.
Será de arrepiar. Fique ligado.
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Os cientistas têm trabalhado furiosamente no mapeamento do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko desde a chegada da espaçonave ao astro, no último dia 6. As primeiras imagens com essa finalidade foram obtidas a uma distância de 100 km e forneceram subsídios para uma seleção inicial de dez sítios para o futuro pouso do módulo Philae.
Agora, esta seleção foi reduzida a cinco locais — e escolher o melhor ponto para descida é mais complicado do que pode parecer. Não é somente escolher o lugar mais lisinho, com menos risco de a sonda ser danificada ao impactar contra uma rocha pontiaguda. Um dos requerimentos, por exemplo, é que ele forneça pelo menos seis horas de exposição ao Sol conforme o cometa gira em torno de seu próprio eixo, de forma que as baterias do Philae possam ser recarregadas via painéis solares, após o esgotamento da carga inicial de 64 horas. Mas calma lá! Também não pode ter Sol demais, sob risco de causar super-aquecimento.
(Meu alvo favorito? É o marcado com a letra A, na imagem acima; ele permite a observação dos dois lobos do cometa e está numa reentrância que parece limitar à medida certa a exposição ao Sol. Mas só imagens com mais resolução permitirão concluir que ele seria mesmo uma boa opção.)
E agora, quais serão os próximos passos? A essa altura a Rosetta já está monitorando o cometa de mais perto — 60 km — e deve descer ainda mais na semana que vem, chegando a 30 km de distância. Esse processo permitirá um mapeamento mais detalhado dos cinco sítios pré-selecionados, e no dia 14 de setembro restarão apenas dois: um primário e um reserva. No fim de setembro, a distância orbital entre a Rosetta e o cometa terá caído para 20 km e, a partir de 10 de outubro, essa distância cai para 10 km — o equivalente aproximado à altitude de cruzeiro de um avião de passageiros.
Em 12 de outubro, a equipe responsável pela escolha dará o “Go!” (ou o “No Go!”, se for o caso) para o sítio primário, e os operadores começam a adaptar o software da Philae para as especificidades do plano de pouso. Em 9 de novembro o software é transmitido da Terra para o Philae e, dois dias depois, em 11 de novembro, vamos todos fazer figas pelo módulo de pouso em sua audaciosa tentativa de fazer uma descida suave na superfície do cometa.
Será de arrepiar. Fique ligado.
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SOS, tem um plâncton solto no espaço!
21/08/14 05:59
É um achado tão inusitado quanto significativo: cosmonautas
russos parecem ter encontrado plâncton marinho vivendo em pleno espaço, a
mais de 300 km de altitude, sobre a superfície externa da Estação
Espacial Internacional (ISS). A descoberta, pasme, foi feita graças a
uma faxina.

Oleg Artemyev e Alexander Skvortsov concluíram uma caminhada espacial
de rotina no último dia 18, que promoveu, entre outras tarefas, o
lançamento de um nanossatélite peruano (o cosmonauta literalmente
arremessa o satélite em órbita, como se pode ver abaixo). Uma das
atividades menos glamurosas da atividade extra-veicular foi a de limpar
por fora as janelas — chamadas também de iluminadores — do lado russo do
complexo.
Segundo os russos, esse é um procedimento comum e necessário em voos de longa duração. Mas, de um ano para cá, eles decidiram analisar que sujeira era essa. Algumas amostras (recolhidas em 2013) foram levadas ao solo e estudadas em laboratório. Foi o que revelou a presença de células de plâncton marinho do lado de fora da estação. As novas amostras colhidas agora por Artemyev e Skvortsov devem passar pelo mesmo procedimento em breve.
“Os resultados do experimento são absolutamente únicos. Encontramos traços de plâncton marinho e de partículas microscópicas na superfície dos iluminadores. Isso precisa ser mais estudado”, afirmou Vladimir Solovyev, gerente russo da ISS, em nota da agência ITAR-TASS.
Os pesquisadores dizem que a contaminação não deve ter acontecido no lançamento dos módulos, que partiram de Baikonur, no Cazaquistão, onde supostamente não costumam viver plânctons marinhos, e também afirmaram que as criaturas unicelulares conseguiram sobreviver após longos períodos de exposição ao vácuo espacial. De onde elas vieram?
O mais provável é que elas tenham vindo mesmo da superfície do mar logo abaixo — nada de ETs por hoje. Mas estamos falando de uma viagem a mais de 300 km de altitude, onde a atmosfera terrestre é praticamente nula (embora ainda dê alguns sinais de sua existência ao, por exemplo, produzir arrasto sobre a estação espacial, puxando-a lentamente para baixo e exigindo reajustes periódicos de órbita). Desnecessário dizer que, até agora, ninguém imaginava que isso fosse possível.
UMA PITADA DE SAL
A notícia pegou de surpresa a comunidade científica mundial. O astrobiólogo americano David Grinspoon, ao comentar o achado, expressou suas dúvidas. “Estamos céticos, mas queremos ouvir mais a respeito”, disse.
Claro, caso seja mesmo confirmada, essa descoberta é extraordinária. Podemos dela concluir que a Terra é “contagiosa”, ou seja, é tão rica em formas de vida que é capaz de despachar algumas delas até mesmo para o espaço. Um asteroide de passagem poderia capturá-las e levá-las a outras partes do Sistema Solar? A noção reforça a hipótese da panspermia, segundo a qual organismos biológicos podem viajar de um planeta a outro e se espalhar por diversos mundos. (Falo bastante dessa perspectiva de que a vida talvez não seja um fenômeno localizado, mas um processo que pode envolver múltiplos planetas, no meu novo livro, “Extraterrestres: Onde eles estão e como a ciência tenta encontrá-los”.)
Contudo, como lembra Grinspoon, ainda é muito cedo para tirar conclusões. Por ora, esse é só um achado preliminar feito de forma quase acidental. Merece um experimento controlado e mais cuidadoso, assim como análises mais concretas. Felizmente, a Estação Espacial Internacional está lá para isso.
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De alguma forma, criaturas unicelulares conseguiram viver do lado de fora da Estação Espacial Internacional
Segundo os russos, esse é um procedimento comum e necessário em voos de longa duração. Mas, de um ano para cá, eles decidiram analisar que sujeira era essa. Algumas amostras (recolhidas em 2013) foram levadas ao solo e estudadas em laboratório. Foi o que revelou a presença de células de plâncton marinho do lado de fora da estação. As novas amostras colhidas agora por Artemyev e Skvortsov devem passar pelo mesmo procedimento em breve.
“Os resultados do experimento são absolutamente únicos. Encontramos traços de plâncton marinho e de partículas microscópicas na superfície dos iluminadores. Isso precisa ser mais estudado”, afirmou Vladimir Solovyev, gerente russo da ISS, em nota da agência ITAR-TASS.
Os pesquisadores dizem que a contaminação não deve ter acontecido no lançamento dos módulos, que partiram de Baikonur, no Cazaquistão, onde supostamente não costumam viver plânctons marinhos, e também afirmaram que as criaturas unicelulares conseguiram sobreviver após longos períodos de exposição ao vácuo espacial. De onde elas vieram?
O mais provável é que elas tenham vindo mesmo da superfície do mar logo abaixo — nada de ETs por hoje. Mas estamos falando de uma viagem a mais de 300 km de altitude, onde a atmosfera terrestre é praticamente nula (embora ainda dê alguns sinais de sua existência ao, por exemplo, produzir arrasto sobre a estação espacial, puxando-a lentamente para baixo e exigindo reajustes periódicos de órbita). Desnecessário dizer que, até agora, ninguém imaginava que isso fosse possível.
UMA PITADA DE SAL
A notícia pegou de surpresa a comunidade científica mundial. O astrobiólogo americano David Grinspoon, ao comentar o achado, expressou suas dúvidas. “Estamos céticos, mas queremos ouvir mais a respeito”, disse.
Claro, caso seja mesmo confirmada, essa descoberta é extraordinária. Podemos dela concluir que a Terra é “contagiosa”, ou seja, é tão rica em formas de vida que é capaz de despachar algumas delas até mesmo para o espaço. Um asteroide de passagem poderia capturá-las e levá-las a outras partes do Sistema Solar? A noção reforça a hipótese da panspermia, segundo a qual organismos biológicos podem viajar de um planeta a outro e se espalhar por diversos mundos. (Falo bastante dessa perspectiva de que a vida talvez não seja um fenômeno localizado, mas um processo que pode envolver múltiplos planetas, no meu novo livro, “Extraterrestres: Onde eles estão e como a ciência tenta encontrá-los”.)
Contudo, como lembra Grinspoon, ainda é muito cedo para tirar conclusões. Por ora, esse é só um achado preliminar feito de forma quase acidental. Merece um experimento controlado e mais cuidadoso, assim como análises mais concretas. Felizmente, a Estação Espacial Internacional está lá para isso.
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O próximo voo lunar chinês
18/08/14 05:56
Prepare-se para o próximo grande feito do programa espacial
chinês: uma espaçonave dará a volta na Lua e retornará em segurança à
Terra, transportando em seu interior formas de vida simples — bactérias e
plantas — que farão um longo passeio no espaço interplanetário antes de
regressar a seu planeta de origem.
Os detalhes ainda são escassos, como de costume no programa espacial da China, mas a imprensa estatal já noticiou a chegada do veículo ao centro de lançamento. A decolagem deve acontecer até o fim do ano (pense outubro). E poucos duvidam que se trata de uma precursora direta de futuras missões lunares envolvendo astronautas.
Oficialmente, a iniciativa é apresentada como uma precursora da missão Chang’e-5, agendada para 2017, que tem por objetivo colher amostras do solo lunar de forma robotizada, como os soviéticos haviam feito nos anos 1970. Mas a imagem acima, que mostra a cápsula do veículo, é extremamente sugestiva de que se trata de um ensaio também para futuras missões tripuladas ao satélite natural.
Duas são as dicas: o tamanho da cápsula, maior do que o que seria exigido para um simples retorno de amostras (as missões soviéticas Luna, por exemplo, eram bem menores), e seu formato, uma réplica exata, em escala reduzida, do módulo de retorno da Shenzhou, a nave tripulada chinesa.
De forma geral, fica claro que o projeto de retorno de amostras é um precursor de um ainda não anunciado programa de retorno de astronautas. Note que o plano adotado pelos chineses para a Chang’e-5 não envolve um retorno direto da superfície da Lua para a Terra, mas um acoplamento em órbita lunar para depois a execução da manobra para a volta ao planeta. É outro detalhe que destoa das missões soviéticas Luna, mas é exatamente o mesmo perfil de missão adotado no projeto Apollo, que levou astronautas americanos à Lua entre 1969 e 1972.
PASSO A PASSO
Vamos dar uma revisada no que os chineses fizeram até agora em seus esforços de exploração do nosso satélite natural? O programa foi batizado de Chang’e, nome da divindade mitológica lunar chinesa, e seu primeiro lançamento aconteceu em outubro de 2007. Era uma sonda orbitadora que fez um mapeamento grosseiro da Lua.
Em outubro de 2010, partiu a Chang’e-2, outra orbitadora, que fez imagens em resolução ainda maior de toda a superfície lunar (inclusive detectando a presença dos equipamentos deixados pelos americanos durante as missões Apollo).
E o grande sucesso veio em dezembro do ano passado, quando a Chang’e-3 pousou na superfície lunar (com um módulo de pouso bem maior do que o que a missão exigia, diga-se de passagem) e levou até lá o jipe robótico Yutu, que funcionou bem durante cerca de 40 dias antes de sofrer um defeito que tirou sua capacidade de locomoção. Apesar disso, o jipe ainda funciona até hoje (em modo “zumbi”, sem se mexer) e está fornecendo dados sobre a resistência de suas peças ao hostil ambiente lunar.
A Chang’e-4, marcada para partir entre 2015 e 2016, será uma réplica exata da missão anterior, com a expectativa adicional de que o problema que afligiu o Yutu seja corrigido. E então, em 2017, teremos a Chang’e-5, que fará o retorno de amostras.
A missão de agora — chamada por ora de Chang’e-5 T1 — tem por principal objetivo testar o sistema de reentrada que será usado em 2017. Trata-se do momento crítico em que a espaçonave invade a atmosfera terrestre a incríveis 40.320 km/h e usa o atrito para frear até um pouso suave, auxiliado por para-quedas, no deserto da Mongólia.
Além do teste tecnológico crucial para o futuro do programa lunar chinês, o experimento biológico poderá colher informações importantes sobre o ambiente de radiação nas imediações lunares e seus efeitos nas plantas e bactérias transportadas a bordo.
A espaçonave também levará um equipamento que transmitirá sinais que poderão ser captados por rádio-amadores, permitindo que eles detectem as transmissões diretamente da Lua. (Esses grupos já têm feito um ótimo trabalho ao monitorar a sonda Chang’e-3 e o jipe Yutu!)
A julgar pela atual toada e pela consistência tecnológica do programa chinês (usando as iniciativas não-tripuladas como verificações consistentes dos designs tripulados), parece-me uma aposta segura sugerir que veremos humanos de volta à superfície da Lua na década de 2020. Podem me cobrar.
Os detalhes ainda são escassos, como de costume no programa espacial da China, mas a imprensa estatal já noticiou a chegada do veículo ao centro de lançamento. A decolagem deve acontecer até o fim do ano (pense outubro). E poucos duvidam que se trata de uma precursora direta de futuras missões lunares envolvendo astronautas.
Oficialmente, a iniciativa é apresentada como uma precursora da missão Chang’e-5, agendada para 2017, que tem por objetivo colher amostras do solo lunar de forma robotizada, como os soviéticos haviam feito nos anos 1970. Mas a imagem acima, que mostra a cápsula do veículo, é extremamente sugestiva de que se trata de um ensaio também para futuras missões tripuladas ao satélite natural.
Duas são as dicas: o tamanho da cápsula, maior do que o que seria exigido para um simples retorno de amostras (as missões soviéticas Luna, por exemplo, eram bem menores), e seu formato, uma réplica exata, em escala reduzida, do módulo de retorno da Shenzhou, a nave tripulada chinesa.
De forma geral, fica claro que o projeto de retorno de amostras é um precursor de um ainda não anunciado programa de retorno de astronautas. Note que o plano adotado pelos chineses para a Chang’e-5 não envolve um retorno direto da superfície da Lua para a Terra, mas um acoplamento em órbita lunar para depois a execução da manobra para a volta ao planeta. É outro detalhe que destoa das missões soviéticas Luna, mas é exatamente o mesmo perfil de missão adotado no projeto Apollo, que levou astronautas americanos à Lua entre 1969 e 1972.
PASSO A PASSO
Vamos dar uma revisada no que os chineses fizeram até agora em seus esforços de exploração do nosso satélite natural? O programa foi batizado de Chang’e, nome da divindade mitológica lunar chinesa, e seu primeiro lançamento aconteceu em outubro de 2007. Era uma sonda orbitadora que fez um mapeamento grosseiro da Lua.
Em outubro de 2010, partiu a Chang’e-2, outra orbitadora, que fez imagens em resolução ainda maior de toda a superfície lunar (inclusive detectando a presença dos equipamentos deixados pelos americanos durante as missões Apollo).
E o grande sucesso veio em dezembro do ano passado, quando a Chang’e-3 pousou na superfície lunar (com um módulo de pouso bem maior do que o que a missão exigia, diga-se de passagem) e levou até lá o jipe robótico Yutu, que funcionou bem durante cerca de 40 dias antes de sofrer um defeito que tirou sua capacidade de locomoção. Apesar disso, o jipe ainda funciona até hoje (em modo “zumbi”, sem se mexer) e está fornecendo dados sobre a resistência de suas peças ao hostil ambiente lunar.
A Chang’e-4, marcada para partir entre 2015 e 2016, será uma réplica exata da missão anterior, com a expectativa adicional de que o problema que afligiu o Yutu seja corrigido. E então, em 2017, teremos a Chang’e-5, que fará o retorno de amostras.
A missão de agora — chamada por ora de Chang’e-5 T1 — tem por principal objetivo testar o sistema de reentrada que será usado em 2017. Trata-se do momento crítico em que a espaçonave invade a atmosfera terrestre a incríveis 40.320 km/h e usa o atrito para frear até um pouso suave, auxiliado por para-quedas, no deserto da Mongólia.
Além do teste tecnológico crucial para o futuro do programa lunar chinês, o experimento biológico poderá colher informações importantes sobre o ambiente de radiação nas imediações lunares e seus efeitos nas plantas e bactérias transportadas a bordo.
A espaçonave também levará um equipamento que transmitirá sinais que poderão ser captados por rádio-amadores, permitindo que eles detectem as transmissões diretamente da Lua. (Esses grupos já têm feito um ótimo trabalho ao monitorar a sonda Chang’e-3 e o jipe Yutu!)
A julgar pela atual toada e pela consistência tecnológica do programa chinês (usando as iniciativas não-tripuladas como verificações consistentes dos designs tripulados), parece-me uma aposta segura sugerir que veremos humanos de volta à superfície da Lua na década de 2020. Podem me cobrar.